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Dia Mundial da Arte

Em 2019, a UNESCO definiu um dia do ano para promover o desenvolvimento, a difusão e a promoção da arte, incluindo aí a valorização da educação artística nas escolas. O dia escolhido foi 15 de abril. 

Talvez possamos começar nossa participação nessa campanha fazendo a mãe de todas as perguntas: o que é arte? E sugerir um experimento reflexivo a respeito do tema, a partir de sua reprodução em sites de busca e nos recentes sistemas de IA, como o chat GPT, por exemplo. Um número infinito de resultados surgirá em sua tela, e pode surpreender pela variedade. Podemos montar um quebra-cabeça, coletando as diferentes definições, exemplos e visões sobre o fazer artístico, como se fossem as peças soltas que nos levam a uma imagem mais definida e complexa. Vejamos: 

Arte – do latim Ars – habilidade ou técnica.

Arte é expressão da subjetividade humana.

Arte é imitação da realidade.

A arte é uma linguagem universal.

A arte é resultado da criatividade humana.

Por fim, a arte é algo fluido e não é possível oferecer uma definição pronta e acabada. 

Chegamos então a, pelo menos, uma resposta inequívoca diante de tantas possibilidades: estamos lidando com um conceito polissêmico, que percorreu um longo caminho na prática humana e no pensamento que se desenvolveu sobre ele ao longo da história, mudando de tempos em tempos de acordo com a cultura, a religião, as mudanças políticas e sociais. 

A arte, como tudo, possui sua própria cronologia, segundo o que se ensina nas escolas e nos livros. Ela nasce na pré-história, com as pinturas rupestres. Para os estudiosos, esses registros feitos em cavernas e paredões rochosos, possuem uma dimensão estética porque se observa ali a “habilidade manual e o poder de abstração que levaram o homem a usar recursos técnicos e operativos” na sua produção. Não importa com que objetivo eles tenham sido feitos (lembram-se das definições? expressão da subjetividade, imitação da realidade, criatividade), isso é arte. No Brasil, essas pinturas podem ser vistas no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e no Sítio Arqueológico Pedra Pintada, ambos em Minas Gerais, no Parque Arqueológico do Solstício, no Amapá, entre outros lugares já conhecidos ou ainda por descobrir. 

Dando um salto no tempo, chegamos aos chineses da Dinastia Zhou (1146-256 a. C.) e sua visão sobre a arte, ou melhor, as seis artes a serem aprendidas, praticadas e protegidas naquela sociedade: arco e flecha, cavalgada, escrita, música, arte militar e cerimônias rituais. Eram essas habilidades que futuros líderes aprendiam nas escolas aristocráticas do período. Enquanto isso, no Ocidente, o filósofo grego Platão (428-347 a. C.) tinha sua própria visão sobre a educação ideal na Grécia Antiga. Apresentada na obra A República, ela se baseava na arte, e também foi dividida em seis categorias: música, poesia, dança, pintura, escultura e arquitetura. A essas expressões associou a ideia de beleza, tornando-a um valor essencial da arte. Esse ideal alcançou seu auge durante o Renascimento (séc. XV), graças ao talento e aos esforços de artistas como Leonardo da Vinci, Rafael, Michelangelo e outros, e ainda tem raízes muito fortes em nosso olhar.  

Depois, como era de se esperar, a arte passou por novas transformações, movimentos, revoluções. Expandiu-se das Igrejas para os Museus e Galerias de Arte. Desenvolveram-se novas técnicas, gêneros e gostos. O século XX popularizou a fotografia e o cinema, que ganhou status de arte, conforme proposto em 1911 no Manifesto das Sete Artes, do italiano Ricciotto Canudo (1877-1923), considerado o primeiro teórico da jovem arte cinematográfica. Platão concordaria com essa intromissão em sua lista? Jamais saberemos, mas quem gosta de cinema certamente o vê como arte, enquanto os puristas podem considerá-lo apenas um entretenimento popular inferior se comparado a uma pintura ou escultura.  

Chegamos aos dias de hoje tentando decifrar a arte contemporânea, se surpreendendo com a arte urbana, vista das janelas dos ônibus e carros, descobrindo um forte movimento de arte negra e indígena, seja na literatura, na música ou nas artes visuais. É a arte se transformando junto com a sociedade. A expressão da subjetividade humana diante da crise ecológica e sanitária, das novas tecnologias, da desigualdade, mas também de temas atemporais como o amor, a finitude da vida e a espiritualidade. 

Que o Dia Mundial da Arte nos ajude a (re)conhecer suas qualidades e os efeitos positivos sobre aqueles que conseguem travar alguma relação com ela, em qualquer fase da vida. Todas as pessoas deveriam ter a oportunidade de aprender e desenvolver habilidades artísticas, encontrar sua linguagem, seu canal de expressão. Gestores ligados à educação e à cultura sabem disso, sabem das potencialidades do acesso à arte para o desenvolvimento humano. 

Um ótimo exemplo de atuação política para a promoção da arte, que vai de encontro aos anseios da UNESCO, é a Escola Municipal de Iniciação Artística (EMIA), no bairro Jabaquara, em São Paulo. Foi fundada em 1980, para oferecer iniciação nas artes a crianças de 5 a 13 anos, por meio de experiências estéticas e processos criativos em Artes Visuais, Dança, Música e Teatro. Por ser gratuita, a procura é grande e sempre há fila de espera por vagas. É pouco para uma cidade do tamanho de São Paulo, mas é um belo exemplo a ser expandido e replicado por outros municípios. 

Fontes:

BUENO, André. Textos de história da China Antiga. Rio de Janeiro: Ebook, 2016.

SOBRE A ARTE BRASILEIRA: da pré-história aos anos 1960. São Paulo: Serviço Social do Comércio; WMF Martins Fontes, 2015.

XAVIER, Ismail. Sétima arte: um culto moderno: o idealismo estético e o cinema. São Paulo: Perspectiva, 2017.

Monalisa Stories

Exposição “Todo dia também é Dia da Mulher” – Projetos Monalisas Brasileiras

 

A exposição “Todo dia também é Dia da Mulher”,
do projeto Monalisas Brasileiras chega na Unibes Cultural

 

A partir do dia 10/03, 22 obras inspiradas em mulheres, tais como Santa Dulce dos Pobres, Elza Soares, Maria da Penha, Catarina Paraguaçu, Rita Lee e outras, que integram o Projeto “Monalisas Brasileiras”, serão expostas na Unibes Cultural, rua Oscar Freire, 2500, São Paulo. A exposição permanecerá na galeria da Unibes Cultural do dia 10/03 a 30/04 e a visitação é gratuita.

 

Dilson Cavalcanti tem a pintura como linguagem e a abstração gestual como abordagem central de sua produção. A escolha das cores, normalmente entre as puras, ora passeiam entre as segundas e terceiras misturas e os diversos materiais, como esponjas, pinceis, espátulas, madeiras e outros, que se encontram a sua mão, conduzirão densidades e diluições das tintas em ações que indicarão muito sobre intencionalidade do trabalho e sua leitura. 

Para esta exposição, o espaço será ocupado com trabalhos onde a colagem visual é o cerne deste processo junto a gestualidade de sua pintura, a centralização do motivo principal diante do fundo, é trabalhado com recursos gráficos e direcionada para impressão digital sobre suportes como papel e tecido. 

Sob o título “Todo dia também é dia da mulher”, a exposição do projeto “Monalisas Brasileiras”, do artista plástico Dilson Cavalcanti, chega a São Paulo, na Unibes Cultural, no próximo dia 10/03. As “Monalisas Brasileiras” já passaram pelo Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro, pela Pinacoteca de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista e na estação do Metrô Trianon-Masp, em São Paulo. 

Mulheres brasileiras que ao longo de cinco séculos, vêm protagonizando transformações em suas vidas e na sociedade, muitas vezes têm sido ignoradas, tanto quanto seus legados sublimados, mas que com o projeto, ganham notoriedade, na reverência do artista, “reverência que deveria ser permanente”, segundo Dilson Cavalcanti.

“Foi em 2019, quando fez 500 anos da morte de Leonardo da Vinci, que este projeto nasceu. A imagem da Monalisa é conhecida, mas o legado de Catarina Paraguaçu, uma índia que era dotada de uma inteligência e protagonismo raros em sua época, quando o Brasil ainda era colônia portuguesa, pouca gente conhece”, relata. “Irmã Dulce, hoje Santa Dulce dos Pobres, nascida na Bahia, no início do século 20, trabalhou incansavelmente pelos pobres da região, deixando um legado ativo e forte, mesmo após sua morte, em 1992. A ex-deputada Maria da Penha dispensa apresentações, mas é um dos ícones contemporâneos da exposição”. 

A exposição “Todo dia também é dia da mulher”, que integra o projeto Monalisas Brasileiras, tem a intenção de fazer com que grandes personalidades brasileiras, tanto do passado como algumas contemporâneas, possam ser vistas, conhecidas, reconhecidas e homenageadas, por seus legados e obras e que, esses ícones, chamem a atenção, especialmente, de crianças e jovens ainda em idade escolar, para que meninos e meninas tenham mais um motivo para orgulharem-se dessas referências históricas nacionais.

Ana Nery, Anita Garibaldi, Carolina Maria de Jesus, Catarina Paraguaçu, Chica da Silva, Clara Sverner, Clarice Lispector, Cora Coralina, Dandara, Hebe Camargo, Elza Soares, Helô Pinheiro, Hortência, Luiza Trajano, Maria Quitéria, Maria da Penha, Naiza Cavalcante, Princesa Isabel, Rita Lee, Santa Dulce dos pobres, Tarsila do Amaral e Zilda Arns.  

 

O artista

Dilson Cavalcanti, 1955. Natural de Tupanatinga, PE. Trabalha e reside em São Paulo, SP. Estudou marketing, administração, relações públicas, trabalhou com moda, comércio e varejo de produtos promocionais e um dia a arte acabou descobrindo Dilson Cavalcanti. “Há pouco mais de 15 anos eu fui me descobrindo artista, e deixei que uma espécie de intuição, naquele momento, se expressasse”, lembra. Ele sempre apreciou a arte abstrata e foi assim que suas obras passaram a se manifestar. “No trabalho que venho desenvolvendo desde então, uso tinta acrílica, água, esponjas, pincéis, espátulas e até rodo de estamparia como materiais de trabalho. Os recursos gráficos digitais, entretanto, usados nas Monalisas Brasileiras, vieram dar outra expressão para o meu trabalho, e acho que pelo ineditismo desta proposta é que essas mulheres têm chamado a atenção das pessoas”, analisa. 

Serviço:

Exposição “Todo dia também é Dia Da Mulher”, de Dilson Cavalcanti

De 10/03 a 30/04/2023

De quinta a domingo das 12h às 20h
Galeria da Unibes Cultural

Rua Oscar Freire, 2500, São Paulo
Acesso gratuito – Inscrições pelo Sympla